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Histórias da Bola
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O golpe das feras

Arquivo Geral

25/01/2019 10h54

A história de hoje é sem bola. Vai ser contada no tatame, combinado? Vamos lá!

O judô brasileiro só contabilizava uma medalha de bronze em Jogos Olímpicos, conquistada pelo peso meio-pesado Chiaki Ishii, japonês naturalizado brasileiro, na alemã Munique-1972. Vieram as Olimpíadas da norte-americana Los Angeles-1984 e os rapazes mostraram a evolução “brasuca”, trazendo duas de bronze e uma de prata.

O mineiro Douglas Vieira, meio-pesado, aos 24 de idade, ficou prateado, enquanto os paulistas Luiz Onmura, também, de 24 e peso leve, e Walter Carmona, de 27 e peso médio, ganharam bronze.

Subir ao pódio como medalhista até que não foi tão difícil para Luiz Onmura, vencedor de quatro lutas e batido em só uma. Após colocar o bronze no peito, só lhe passou pela cabeça falar com os pais, Toshikazu, imigrante japonês pobretão que se virava com um modesto estúdio fotográfico, e a dona de casa nissei Mary que, malmente, falava o português.

Por aquele tempo, ligar dos Estados Unios para o Brasil dava um trabalhinho, se de um dos lados da linha não houvesse quem falasse o inglês. Caso de Mary, que já estava dormindo, bem com o marido, quando o telefone tocou. Sem sucesso no contato em sua língua, o operador de Los Angeles tentou em espanhol e no pouco do que sabia de português. Mas Mary era a pessoa errada, na hora errada para atender a ligação. Dois dias depois do seu sucesso olímpico, Luiz Onmura ainda não sabia se seus pais já sabiam do que ele queria fazè-los saber.

Judoca desde os nove de idade, Onmura já havia sido prata nos Jogos Pan-Americanos-1979; ouro-1980 e bronze-1984 no Campeonato Pan-Americano; campeão sul-americano-1983 e prata na Copa Ramón Rodriguez, em Cuba-1984.

Walter Carmona ficou perto do pódio das Olimpíadas de Moscou-1980, em quarto lugar. Era o então mais premiado judoca brasileiro, estudava Engenharia e vivia às custas dos pais – Nair e Pedro Carmona -, donos de uma fábrica de molas, em São Paulo. Ele nem tentou informar nada aos coroas, depois de medalhado. Saiu para passear e comprar presentes, principalmente, para a noiva Marcia Kufel, de 26 de idade e estudante de Arquitetura. Com casamento marcado para outubro, ele decidiu encarrar a carreira e dividir a administração da indústria com o pai.

Enquanto passeava, Carmona cometeu o deslize de não comparecer ao ginásio onde Douglas Vieira lutaria à noite, contra adversário sul-coreano que tinha milhares de torcedores ao seu lado em um ginásio lotado. Para quem estava lá, o “sem fama” Douglas Vieira era um zebrão. Então, já que estava na guerra, Vieira saiu para o combate e deu um trabalho danado ao favorito. Tinha a torcida, apenas, do colega Luís Onmura, de dois treinadores e de dois jornalistas brasileiros – uma prata tão importante quanto a dourada. Contra tudo e contra quase todos.

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