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Histórias da Bola
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O CREPÚSCULO DOS DEUSES

Arquivo Geral

07/06/2018 15h56

A revista “O Cruzeiro”, a principal do país, entre 1928 e a década-1960, jogava pra cima os grandes lances do futebol, mas, também, batia firme. Caso do começo do fim do “Expresso da Vitória”, o grande time do Vasco da Gama, um dos mais fortes do planeta, de 1945 a 1950.

Por ter feito uma campanha fraca durante o Campeonato Carioca-1951 – sete quedas, quatro empates, nove vitórias, 36 gols pró, 29 contra, 22 pontos ganhos e 18 perdidos – o “Almirante” levou uma tremenda porretada, por três páginas, com bastante fotos (por Douglas Alexandre) e a manchete: “O crespúculo dos deuses”.

Para a semanária, muitos atletas vascaínos galgaram, rapidamente, os degraus da fama, “parecendo terem subido demasiadamente alto”. Razão de não perdoa-los pela perda, em 1951, de mais pontos do que no total dos três campeonatos anteriores. Viu o Vasco da fase sendo um amontoado de jogadores desmoralizados, após tê-los como “uma casta no futebol brasileiro, obrigatórios nas seleções cariocas e nacional”.

Realmente, para um time que ganhara quatro Estaduais – 1945/47/49/50 -; três Municipais – 1945/46/47 -; dois Torneios Inícios – 1945/48 -; um Torneio Relâmpago – 1946 – e o Sul-Americano de Clubes Campeões – 1948 –, era de espantar e de desmerecer a alcunha de “esqudrão quase imbatível”, como cunhou o redator Luiz Carlos Barreto, lembrando ter a “Turma da Colina” passado cinco rodadas sem vencer, “com os mesmos categorizados jogadores das brilhantes campanhas” citadas acim.

O Estadual-1951 terminou com o Vasco da Gama em quinto lugar, a nove pontos da ponta, marcando 15 gols a menos e sofrendo sete a mais do que o ponteiro. Segundo o texto, o pé quebrado do “magnifico jogador” Ademir Menezes não era desculpa aceitável. Considerava a queda começando pela saída do treinador Flávio Costa, bicampeão carioca-1949/50.

“O Cruzeiro” viu, também, o Vasco pós-Flávio repleto de atletas “balofos e fora de forma”, pisando na bola do Torneio Rio-São Paulo e avisando à torcida que não contasse com eles para muito, como nas “discretas atuações” na Copa Rio, que a imprensa carioca dizia ser um mundial de clubes campeões. Mais: criticou a diretoria por submeter o grupo a uma excursão “caça-níquel e suicida” a Pernambuco, onde Ademir ficou machucado.

Nesse ponto, a revista tinha razão, pois o maior cítico da diretoria era o treinador Oto Glória, que acusava os cartolas deixarem a equipe entregue à própria sorte, provocando “fatos inacreditáveis”, em São Januário, o que revelara ter Flávio Costa previsto.

“Desempenhei não só o cargo de treinador das três categorias – juvenil, aspirante e profissionais -, mas trabalhei, também, muitas vezes, como massagista, motorista da camioneta que transportava os jogadores e zelador da concentração, entre outros”, citou, criticando o Departamento Técnico por até “esquecer dos dias dos jogos e não tomar providências para o mínimo necessário”.

Declarações assim faziam bem o estilo de “O Cruzeiro”. Principalmente, porque Oto Glória escancarou que os cartolas vacaínos chegaram a concentrar a equipe em hotel (da Lapa) frequentado por prostitutas, defronte oficina de jornal que não deixava ninguém dormir, e pagavam, em vitórias, bichos que nem “cabeças-de-bagre” ficavam satisfeitos. Portanto, na bola forissima do Vasco, golaço da revista.

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