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Histórias da Bola
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Fio desencapado

Arquivo Geral

29/11/2017 16h39

O Flamengo teve um atacante chegado ao clube aos 15 de idade, levado pelo irmão Germano, aquele que cadou-se com uma condessa italiana, depois de enfrentar, cinematograficamente, o riquíssimo pai da moça, que não a queria vivendo com um negro.

Enquanto Germano defendia o Milan, na Itália, o garoto Fio começava a aprontar nos ataques dos times de base rubro-negros. Nos aspirantes (categoria extinta), batia um bolão. Mas nem tanto quando jogava pelo time A. Variava jogadas de Pelé com lances de João Batista Sales, isto é, de Fio.

Um dia, o Flamengo enfrentava o português Benfica, amistosamente, no Maracanã, e o jogo não saía do 0 x 0. Quando a torcida perdeu a paciência e começou a ir embora, eis que aquele rebento da mineira Conselheiro Pena foi lançado, se livrou de quem pintou pela frente e marcou um golado, de placa, de invejar ao “Rei do Futebol”. Levou o compositor Jorge Bem, que ainda não era Benjor, a homenagear-lhe com a música “Fio Maravilha”, de muito sucesso em um festival, cantada por Maria Alcina.

Fio, mais tarde, acionou Ben, na Justiça, e, depois, arrependeu-se, dizendo-se mal orientado pelo advogado. De sua parte, o compositor defendeu-se diante do Juiz, alegando só produzia canções para “mulher e jogador de futebol, as minhas paixões”, e ganhou a causa, assegurando que muitos lhe pagariam caro por uma homenagem daquelas.

Depois de 167 jogos e 44 gols pelo Flamengo, Fio começou a rodar. Em 1975, veio defender o Ceub, que vivia contratrando veteranos em final de carreira. Fio adorava um samba. Nas sextas-feiras, era figurinha carimbada no “Sambão do Bancrevea”, programa que marcou época na Brasília setentista, no Lago Sul.

Por Fio ser atração para a torcida, o treinador Raimundinho era obrigado a escalá-lo. Um dia, este mandou um chega pra lá no presidente Adílson Peres: ou ele prioibia Fio de ir ao samba, n as vésperas de partidas, ou o mandasse embora. Adílson ficou com a segunda opção.

Fio era imprevisível. Assim como fazia golaços e fazia partidaças, havia ocasiões em que o garoto que cuidava das tabuletas do placar jogaria mais do que ele, se ocupasse a sua vaga. Uma dessas jornadas em que Fio executou lance de Pelé foi em Ceub 2 x 0 Desportiva Ferroviária, do Espírito Santo, pelo Campeonato Nacional (como era chamado o atual Brasileirão), durante a noite de 26 de outubro de 1975, no velho Mané Garrincha.
O cronômetro do árbitro Carlos Costa marcava 33 minutos do primeiro tempo, quando o lateral-esquerdo Adalberto progrediu, pela esquerda, e fez um cruzamento para a entrada da área do time visitante. Fio surgiu, como um raio, e cabeceou, maravilhosamente, não sobrando tempo o goleiro capixaba nem aproximar-se da bola. Levantou a galera. Na sequência, rolou uma comemoração maluca, toda desengonçada, parecendo aqueles bonecos dos mamulengos nordestinos, os chamados “Mané Gostoso. A torcida sorriu pelo restante da partida. Pareceu que Fio havia marcado o primeiro gol de sua carreira.

Com certeza, a cena cômica de Fio valeu muito mais do que as “28 milhas” que passaram pelas bilheterias do estádio. No segundo tempo, após o “gol de Pelé”, o desencapado Fio recebei o terceiro cartão amarelo, bobamente, para desfalcar o Ceub no jogo seguinte, contra o Centro Sportivo Alagoano, em uma quarta-feira, em Maceió. No sábado, porém, diante do Americano, de Campos-RJ, no Mané, a torcida compareceu energética para saudar Fio e as suas maravilhosas maluquices. E ele cumpriu o seu papel à risca, driblando zagueiros, olhos nos olhos com o goleiro e perdendo gols que nem mulher grávida perderia. Ele era coisa de desenho animado.

Contra a Desportiva, o segundo gol ceubense foi marcado por Marco Antônio, aos 33 da etapa final, com o time sendo: Jair Bragança (veterano ex-Botafogo e Vasco); Fernandinho, Cláudio Oliveira, Emerson e Adalberto; Alencar, Péricleds e Moreirinha; Julinho, Marco Antônio e Fio Maravilha.

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