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Histórias da Bola
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Escurinho Futebol Clube

Arquivo Geral

26/12/2018 13h12

Um dos mais festejados sociólogos destas bandas, o pernambucano Gilberto Freyre, criou o termo “mulatice brasileira” O alemão Anatol Rsenfeld, que veio pra cá, gostou, ficou e chegou a escrever, admiravelmente bem, no idioma português – jornal “O Estado de São Paulo” – afirmou que a elasticidade do mulato (que conhecera, evidentemente) derivava-se de sua posição entre as raças e do seu desejo de fixar um “status, de desempenhar papel que as camadas dominantes não estavam dispostas a lhe conferir.

Por ali ele vita a figura do “mulato pernóstico”, cheio de pose, de truques que chegaram ao futebol na forma de artimanhas, manobras, malícias de heróis épicos, como Antíloco (1) que vence Manelau (2), durante corrida de bigas – nem tanto pela rapidez.

Giberto Freyre, ao abordar o “estilo brasileiro” de jogar futebol, o creditava a uma expressão da mulatice, rica em peraltices, assimilações, domínios e abrandamento coreográfico sinuoso e musical de técnicas vindas de fora do país, das “estranjas”. Aquele nulato, segundo ele, era inimigo do formalismo apolíneo (3), preferindo ser dionisíaco (4) em sua molbilidade. Lembrava o estilo político de Nilo Peçanha.

Jogar futebol lembrando atuação de político? O que é isso? Vamos lá!

Nilo Peçanha foi o único presidente da república brasileira na cor mulata. Deputado federal (1891/1902) defendeu o afastamento do presidente e marechal Deodoro da Fonseca, por fechar o Congresso Nacional, desposticamente. Entre 1903/1906, esteve governador do Rio de Janeiro, usando política de austeridade fiscal. Próximo passo: vice-presidente da república, no governo Afonso Pena, que bateu as botas, em 1909, deixando-lhe o cargo por herança.

Em um ano e cinco meses de governo nacional, Nilo Procópio Peçanha, nascido em Campos-RJ, ampliou a malha ferroviária ‘brasuca”, construíndo estradas pelo Sul,
Sudeste e Nordeste; levou saneamento de saúde à Baixada Fluminense; deu ao Rio de Janeiro luz elétrica; modernizou e expandiu os Correios e Telégrafos; ampliou investimento de capitais na indústria; qualificou trabalhadores para a indústria; estimulou a criação da Escola de Aprendizes Artífices; promoveu pesquisas científicas agrícolas; nomeou ministros por critérios técnicos; aumentou a emissão de papel-moeda e impostos sobre importação de artigos; captou mais recursos estrangeiros para o país e criou o Serviço de Proteção aos Índios, entregue ao comando do então tenente-coronel Cândido Rondon.

Em 1910, quando sua sucessão, Nilo Peçanha (viveu entre 1867 a 1924) apoiou o candidato e marechal Hermes da Fonseca, contra Rui Barbosa, apoio decisivo para a vitória do militar. Ruy, sujeito preconceituoso e criador da inflação no país, como ministro da Fazenda, quando nada, em 1882, sendo relator da comissão estatal do ensino educacional, salientou a necessidade dos exercícios físicos nas escolas primárias.

Como lemos, Nilo Peçanha foi um mulato dono de muita ginga política, como observou Gilberto Freyre. Nove temporadas depois do seu governo, surgia o primeiro mulato ídolo no esporte, o goleador da Seleção Brasileira, Arthur Friendenreich, filho de um alemão com uma mulata. Na verdade, os “escurinhos” já vinham fazendo coisas grandes, de há muito, nas artes e na literatura. Só que tudo passava despercebido, porque nada daquilo enchia estádios de futebol e pouco chegava ao povo.

Veio a década-1930 e o zagueiro Domingos da Guia e o atacante Leônidas da Silva tornaram-se os dois ídolos máximos do povo brasileiro. Representavam, também, um valor ideológico, o da democracia epidérmica – e viva o mulato!

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