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Histórias da Bola
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Dia de Natal

Arquivo Geral

24/12/2017 10h25

Um dia, acontecia um festival de futebol para garotos de escolinhas, em Belo Horizonte. No time do Itaú, de Contagem – cidade industrial das vizinhanças da capital mineira – jogava um garoto chamado Natal. Na partida contra o Cruzeiro, o danado comeu a bola e nem teve tempo de respirar, após o apito final. Orlando Vassali foi até ele e o intimou a ser, imediatamente, um cruzeirense. O menino, assustado, não só foi, com tornou-se o maior ponta-direita da história do clube.

Driblar era uma brincadeira para Natal. Ganhou o apelido de “Diabo Louro” e aprontou horrores com os marcadores, principalmente quando já era juvenil e foi campeão mineiro, jogando ao lado do também “recém chegante” Dirceu Lopes – o lateral-direito Pedro Paulo foi u outro que subiu com ele para o time A que se tornaria um dos melhores da história do futebol brasileiro, a partir de 1966.

Quando o Cruzeiro estava formando a geração que seria penta estadual e ganharia a Taça Brasil (espécie da atual Copa do Brasil), a rapaziada não tinha noção do que estava acontecendo, sobretudo porque o presidente do clube, Felício Brandi, dizia-lhes que não estava preocupado com resultados.

Natal virava mais fera quando enfrentava o maior rival cruzeirense, o Atlético-MG. De tanto humilhar o marcador Warley, os galenses foram ao Uruguai e contrataram o terrível Cincunegui, em uma quarta-feira, para este marca-lo, em um domingo de decisão de título estadual. Por 85 minutos, ele não viu a cor da bola. O marcador descia-lhe a porrada. Bastou um descuido dele e Natal passou-lhe a pelota por entre as pernas e lançou Tostão, que balançou a rede.

No entanto, o lance mais incrível de Natal diante do “Galo” rolou no 18 de setembro de 1966. Disseram que ele fizera um cruzamento e fizera o gol por acaso. Mas ele sempre jurou ter mesmo tentado o tento. À Revista do Cruzeiro, Nº 15, de junho de 1997, alegou: “Nunca vi ninguém fazer um cruzamento do meio do campo”.

No lance, houve uma falta, o apoiador Zé Carlos tocou na bola para a sua direção, tendo mandado-a, aos 45 minutos do segundo tempo, par “onde a coruja dorme”, como falavam os “speakers” de antigamente, dizendo que a pelota passou pelo ângulo superior, na interseção do poste transversal com o vertical. Aconteceu diante de 97.965 torcedores que foram ao Mineirão aplaudir Raul; Hilton Chaves, William, Cláudio e Neco; Piazza e Zé Carlos; Natal, Tostão (autor do primeiro gol, aos 25 minutos da etapa inicial), Evaldo e Hilton Oliveira.

Por aquela mesma temporada, Natal aprontou, também, para o time do Santos de Pelé. Decidia-se a Taça Brasil. Enquanto aquela geração do Cruzeiro ainda era desconhecida fora de Minas Gerais, a defesa santista era lenta. Como um gramado muito grande, no Mineirão, Natal, Tostão e Dirceu Lopes, principalmente, sumiam na frente dos visitantes, que não tinham velocidade para acompanha-los. Resultado: Cruzeiro 6 x 2. No jogo seguinte, em São Paulo, a “Turma do Rei” abriu dois gols de frente, a “Raposa” empatou e Natal virou o placar: 3 x 2.

Em 1967, faltando três rodadas para o final do Campeonato Mineiro, o “Galo” estava com seis pontos à frente do Cruzeiro. Com um empate, seria campeão. Mas perdeu para os timecos de Valério, Uberaba e Uberlândia e foi para uma melhor de três com o Cruzeiro. Perdeu, por 3 x 1 e 3 x 0, e nem precisa contar o que Natal aprontou. Era seu dia.

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