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Histórias da Bola
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A FUGA DO HONVÉD

Arquivo Geral

14/05/2018 11h18

Quando a sua turma desceu as escadas do Parlamento húngaro, em Budapest, e entrou em um ônibus, rumo à austríaca Viena, o time do Honvéd deveria mostrar a beleza do seu futebol e celebrar o sopro de liberdade na Hungria liderado por Imry Nagy.

Fora um 1 de novembro de 1956 esfuziante. Mas a alegria foi só pors três dias. A “cortina de ferro” comunista voltou a cobrir o país e o restaurado controle comunista cassou a licença da viagem do Honvéd, que recusou-se a obedecê-lo. Para os seus atletas, a liberdade era inegociável.

No 23 de outubro, o povo húngaro foi à luta armada contra o comunismo, combatendo pelas ruas e praças de Budapeste. Há 80 km dali, a seleção de futebol húngara treinava, em Tata, para encarar a Suécia, no 27 de novembro. Entre treinos e expectativas, dois jogadores se apresentaram na concentração, fardados e carregando fuzis nas mãos, Czibor e Szabo, que haviam participado de lutas de ruas contra os comunistas.

Enquanto parecia que Nagy seguraria o sopro de liberdade húngaro, Puskas liderou os colegas, destitui-se o presidente do clube, o comunista … Madarász, criou-se um conselho revolucionário para comanda-lo – o Honvéd era o que o Dínamo representava na Rússia: instrumento de propaganda do governo – e três desportistas – Puskas, Kocsis e o dirigente Emil Oestreicher – foram falar com o primeiro-ministro Nagy, que autorizou o grupo a excursionar por fora do país.

Reconhecidos dentro de uma viatura militar, os dois atletas foram aplaudidos pelo povo. No Parlamento, receberam mais aplausos e também abraços. Durante a viagem – inicialmente para a Áustria – houve seis paradas, pois pelotões patrióticos obrigavam passageiros a se identificarem e, além de tudo, queriam cumprimentar Puskas, Kocsis, Bozik (era deputado), e Czibor, os grandes ídolos time húngaro campeão olímpico-1952. O mesmo ocorreu da parte dos guardas da fronteira austríaca, após 17 horas de viagem.

Em Viena, no de 3 de novembro, soube-se que a fronteira húngara com a Áustria havia sido fechada. O pior viria um dia depois: a notícia de que a Rússia havia invadido Budapeste. A maioria dos jogadores se desesperaram, tendo Kocsis sofrido a maior crise nervosa, pois deixara em casa a sua mulher grávida. Queria ir embora, mas foi contido, pois não conseguiria passar pela fronteira.

Naquele clima terrível, o Honvéd estreou na excursão com 5 x 5 Essen. Saudado, efusivamente, pelo público, o time todo chorou no grande círculo do meio do campo, pois não tinha nenhuma possibilidade de contato com familiares. Para a turma se manter viajando, pois tinha pouco dinheiro, os clubes Rapid e Áustria emprestaram 20 mil “shilling” ao Honvéd, o equivalente , hoje, cerca de 30 mil dólares.A difícil situação financeira do grupo levou, ainda, o Racing-FRA a abrir mão de uma apresentação gratuita do time húngaro, em Paris, em pagamento de visita sua a Budapeste. E colaborou mais, cedendo um milhão de francos à rapaziada.

Enquanto o Honvéd jogava pela Europa, as linhas telefônicas da Hungria estavam cortadas. O telégrafo não transmitia e nem recebia mensagens, e o rádio amador era controlado pelas tropas de ocupação. Só por meio da diplomacia francesas foi possível contato com as famílias. As esposas informaram que a situação era grave e era preciso sair do país o mais rápido possível. Cada atleta pagou dois mil dólares para a execução de um pano secreto de fuga delas. Mesmo com aquele clima, eles venceram o Racing Paris, por 4 x 3, em 13 de novembro.

Os próximos gramados visitados foram da Espanha, e o Honvéd recebeu o mesmo carinho do povo austríaco e francês. Mas vieram notícias duras. As esposas dos atletas que fugiam para a Áustria haviam sido capturado a sete quilômetros da fronteira. E só não tiveram sorte pior porque fugia junto com elas o goleiro Grosics, da seleção húngara e que, reconhecido pelos guardas, intercedeu pelas mulheres, que foram obrigadas a voltar a Budapeste.

Com aquele insucesso, tentou-se planos individuais de fuga das esposas, e a primeira a chegar a Áustria foi a mulher de Puskas, junto com o filho Ankito. Nesta nova fase, Grocsis, também, fugir. Ele encontrou-se, em Viena, com Lantos, Szusza, Sandor e Solnok, que excursionavam com outros times saídos da Hungria antes da invasão soviética, e foram incorporados ao Honvéd, por Emil Oestreiche, que os recebeu em Madrid.

Milão, na Itália, foi o ponto onde a maior parte das esposas encontraram-se com os jogadores. A cada chegada, a cidade fazia uma festa de congratulações. Mas ali o grupo quase foi ao desespero, porque as tratativas para uma viagem à América do Sul não progrediam. Foi quando um telegrama do Flamengo devolveu a alegria a todos.

Saiba, pela próxima coluna, como Flamengo e Botafogo salvaram o Honvéd da extinção, bem como as carreiras de Puskas e companhia.

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