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Brasília

Gravações têm de ser investigadas com isenção

Arquivo Geral

25/07/2016 7h00

Atualizada 24/07/2016 20h43

Passado o primeiro impacto das gravações feitas por Marli Rodrigues, presidente do SindSaúde, é mais fácil avaliar o que significam realmente e que consequências poderão ter. Não dá para superestimá-las, como fazem a própria Marli e a oposição, nem subestimá-las, como faz o governo.

O que se diz nas gravações é grave, embora não haja provas do que se fala. Marli gravou conversas em que são levantados indícios de irregularidades na Secretaria de Saúde, ocorridas na gestão de Fábio Gondim, que já deixou a pasta. As acusações chegam também à Secretaria da Fazenda e atingem o governador Rodrigo Rollemberg e sua mulher, Márcia, além de dois distritais: Cristiano Araújo e Robério Negreiros.

O governador tem, pois, de ser o mais interessado em que tudo seja apurado e esclarecido, e com rapidez.

Menos retórica, mais apuração

Vários malfeitos citados nas conversas são atribuídos pelos denunciantes a um subsecretário, Marcelo Nóbrega, e ao ex-diretor do Fundo de Saúde, Ricardo Santos, que não foram escolhidos por Gondim, mas pelo governador Rodrigo Rollemberg.
Todas as gravações foram entregues ao Ministério Público e a Polícia Civil tem algumas delas. O Ministério Público de Contas também entrou no caso.

Mas antes de serem concluídas as investigações o que há é só retórica, de todos os lados. Acusações sem provas e desqualificação de denunciantes não levam a lugar nenhum.

Erro e acerto de Marli Rodrigues

A presidente do SindSaúde exagerou na dose ao dizer que tem provas contra o governador Rodrigo Rollemberg. O que ela tem são gravações que apresentam indícios de corrupção e nas quais o governador e sua mulher são acusados. Não há, pelo menos até agora, provas disso. Marli errou ao endossar acusações que não foram feitas por ela, mas por seus interlocutores, e ao fazer com que sua ferrenha oposição ao governo fosse extrapolada para denúncias não fundamentadas.

Marli, porém, agiu certo ao entregar as gravações ao Ministério Público. Uma coisa é ter conhecimento de supostos malfeitos e ignorá-los, ou divulgá-los sem provas apenas para atingir objetivos políticos. Outra coisa é informar tudo a quem realmente pode apurar o que há de fato nas denúncias.

CPI faz jogo de cena, mas…

As investigações que estão sendo feitas pelo Ministério Público e pela Polícia Civil é que podem dizer o que é verdadeiro e o que é falso nas gravações. Investigações que têm de ser bem feitas e isentas, mas com a maior rapidez possível. Não dá para apostar nas supostas investigações da CPI da Saúde montada na Câmara Legislativa. A maioria de seus integrantes e muitos outros distritais não têm demonstrado isenção. Parece que querem apenas fazer pirotecnia para aparecer na mídia e desgastar o governo. Mas o governo, mesmo assim, tem a obrigação de apoiar o trabalho dos distritais. Se não pela questão institucional, para não parecer que tem medo.

Um presente para os distritais

Há muitos anos que, no Congresso Nacional ou na Câmara Legislativa, comissões parlamentares de inquérito são constituídas para dar a parlamentares resultados políticos ou financeiros. O último e menos importante objetivo, a não ser para alguns poucos, é a investigação. A CPI da Saúde na Câmara Legislativa não foge à regra. Foi formada sem um objeto específico, com argumentações genéricas, e estava totalmente perdida e sem foco, buscando algo em que pudesse se fixar.
O vazamento das gravações feitas por Marli Rodrigues foi um alívio para seus integrantes. Agora, pelo menos, têm um rumo a seguir.

Desmentido que vai durar pouco

Marco Antônio Ferreira da Silva Júnior, ex-subsecretário de Infraestrutura e Logística da Secretaria de Saúde, desmentiu o que Marli disse na CPI: segundo ele, o organograma que desenhou e ela mostrou aos distritais indica responsáveis por nomeações e não um esquema de corrupção.

O problema de Marco Júnior é que a conversa dele foi gravada. E ele fala de propinas, sim. Até a tipificação dos crimes é feita por ele.

O ex-subsecretário foi trazido do Maranhão para Brasília pelo então secretário Fábio Gondim, que também está nas gravações.

Transparência é o melhor remédio

O ex-secretário Fábio Gondim, servidor do Senado e que atualmente chefia o gabinete de um senador do Maranhão, diz que pediu demissão porque o subsecretário Marcelo Nóbrega atrapalhava sua gestão e cometia irregularidades.

Nóbrega foi, realmente, colocado no cargo pelo governador, ainda na gestão do primeiro secretário, João Batista. Foi uma indicação de Márcia Rollemberg, com quem trabalhou no Ministério da Cultura.

Oficialmente Gondim pediu demissão, mas circula a versão de que ele foi instado a sair porque havia indícios de irregularidades em sua gestão. Será bom esclarecer isso.
Esconder os fatos geralmente não é uma boa solução.

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