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Brasília

CPI não pode ser instrumentalizada por policiais

Arquivo Geral

26/07/2016 6h59

Atualizada 25/07/2016 22h14

Alguns delegados da Polícia Civil prestaram um desserviço à categoria ao anunciar que iriam cooperar voluntariamente com as investigações da CPI da Saúde. A decisão, tomada pelo sindicato dos delegados, foi claramente política: uma represália ao governador por não autorizar o reajuste salarial dos policiais civis.

Um dos delegados que se prontificaram a trabalhar de graça para a CPI, o dirigente sindical Rafael Sampaio, disse, inclusive, que os “voluntários” poderiam utilizar a estrutura da Polícia Civil para a investigação parlamentar. Perdeu a noção.

Conflito claro de interesses
Rafael foi exonerado ontem do cargo comissionado que ocupava na Secretaria de Segurança – e do qual ele mesmo deveria ter se afastado por conflito de interesses, pois é vice-presidente do sindicato, e ainda dedica boa parte de seu tempo à atividade sindical.
Se a Polícia Civil está carente de quadros, como se alega, os delegados poderiam doar seu tempo livre à corporação, e não à Câmara Legislativa.
E nem deveriam estar pensando em fazer pressão política utilizando a CPI.

Tem muito trabalho na polícia mesmo
O diretor da Polícia Civil, Eric Seba, mostrou aos delegados que o voluntariado não está previsto na lei e que eles somente podem trabalhar a serviço da Câmara se forem cedidos formalmente. E já há policiais trabalhando na CPI.

Como há carência de pessoal nas delegacias, não faz o menor sentido aumentar ainda mais o número de policiais cedidos ao Legislativo. Há trabalho suficiente para todos na própria polícia.

Oportunidade perdida
A decisão dos delegados foi eminentemente política, o que não pega nada bem para eles e para a CPI. Primeiro, porque não é assim que se resolvem conflitos sindicais. Segundo, porque reforça o caráter político e de oposição da CPI, que deveria fazer investigação isenta.
O objetivo da maioria dos membros da CPI é desgastar o governo e, de preferência, atingir o governador.

O presidente, Wellington Luiz, faz oposição ferrenha ao governo e quer retomar sua influência na Polícia Civil, da qual é agente. Se a CPI apurar alguma coisa, de verdade, já será um grande lucro. Mas contribuir para melhorar a atenção à saúde em Brasília, aí é querer demais.

Cada coisa é uma coisa
O diretor de Comunicação da Polícia Civil, delegado Miguel Lucena, que é também jornalista, deu entrevista a Celson Bianchi, do Alô Brasília. Lucena não concorda com o discurso de sucateamento da Polícia Civil, brandido pelos policiais que reivindicam aumento salarial.

Segundo ele, esse discurso “não tem fundamento” e “é feito para reforçar um pleito justo e merecido, que é a recomposição salarial dos policiais civis”. Diz Lucena que a recomposição salarial é justa porque há perdas inflacionárias da ordem de 50%, “e os policiais civis trabalham muito bem e merecem”.

Mas não porque haja um caos na corporação. “Uma coisa é dizer que o efetivo está baixo, porque a população quase triplicou nos últimos 23 anos”, diz Lucena, “a outra é dizer que existe um caos para justificar uma campanha salarial”.

Tiros no pé
Servidores da administração e funcionários das empresas públicas ainda não entenderam que quando atacam os órgãos e companhias em que trabalham, em represália por não receberem aumentos salariais, estão colaborando para seu desprestígio e desmoralização.
Estão dando munição para os que defendem a privatização e a terceirização dos serviços.

Demitido a pedido, sem ter pedido
O jornalista Caio Barbieri foi exonerado, a pedido, da chefia de comunicação social da Secretaria de Esportes e Turismo. Só que ele não pediu a exoneração, nem verbalmente nem por escrito.

Caio, que já trabalhou no SindSaúde, estava na Casa Civil quando entrevistou Marco Junior, subsecretário de Saúde que montou o organograma apresentado por Marli Rodrigues à CPI.
Antes de fazer a entrevista, Caio, no fim do ano passado, havia denunciado ao chefe da Casa Civil a tentativa de extorsão de que Marli tinha sido vítima. Deu nomes e sobrenomes, mas nenhuma providência foi tomada.

Só meses depois é que um dos envolvidos foi exonerado pela secretária de Planejamento, Leany Lemos. O outro só foi exonerado ontem e um terceiro continua trabalhando na Câmara Legislativa. Caio não é acusado nem de extorsão nem de corrupção. Mas dançou mais rápido do que os supostos culpados.

Velha política, velhos métodos
Têm sido comentados e estão pegando muito mal os telefonemas que um assessor do governador tem dado a jornalistas e diretores de órgãos da imprensa vinculando a publicidade oficial ao apoio ao governo.  Há quem aceite a pressão, claro, pois a crise é grande. Mas já preparando o troco.

Mais sacos sem fundo
Esse tipo de chantagem sobre os veículos – sim, é chantagem – além de não ser ético abre a possibilidade, aos oportunistas que existem em todos os segmentos, de chantagear de volta: ou aumenta a publicidade ou voltamos a bater.
Não são só os políticos que têm saco sem fundo.

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