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Coluna do Aquiles

Tom Jobim em boas mãos

Arquivo Geral

18/10/2017 20h53

Piano, Voz e Jobim (Mills Records) é um álbum que reúne duas feras: o grande cantor Augusto Martins e o cantor, arranjador, pianista e regente Paulo Malaguti Pauleira. Juntos eles mergulham em 15 canções de Tom Jobim.

Sobre Augusto eu escrevi em fevereiro de 2016: “Augusto Martins, com bonito timbre de voz, exala doçura (…) Suas interpretações e sua sobriedade, que privilegiam a dicção e a afinação, dispensam afetações”. Hoje acrescento que sua bem colocada respiração permite que cante com mais liberdade, podendo prolongar notas ou ajuntar compassos a seu bel-prazer, sem que a afinação caia. E seu timbre hoje, ainda mais do que sempre, é plena energia.

Com seu piano viril, Malaguti fez catorze dos quinze arranjos, os quais permitem que os encadeamentos de acordes – sempre com desenhos bem urdidos, nos quais, quase sempre, predominam notas graves – fluam certeiros. Respeitosos à obra de Tom, pela qual demonstram amor incondicional, seus arranjos, todavia, libertam voz e piano para voar em pegadas de puro pop.

Cada introdução, cada intermezzo, cada levada, são belezas somadas às bonitezas de Tom. Por sua vez, Augusto as canta com a fidalguia dos ases, já que cada arranjo exigiu o máximo de seus predicados como cantor.

“Estrada do Sol” (TJ e Dolores Duran) tem levada instigante, calcada em desenhos com notas graves, que tira Martins de sua zona de conforto e proclama sua condição de intérprete maior.

“Chovendo na Roseira”(TJ) tem AM em agudos afinados. Por sua vez, após um belo intermezzo, notas dedilhadas precedem uma modulação.

“Sabia” (TJ e Chico Buarque) recebe mais uma bela intro. Arritmo, AM inicia o canto. Seus agudos prescindem de falsete.

“Demais” (TJ e Aloysio de Oliveira) inicia com voz e piano arritmo. Após um intermezzo a levada muda. E arrasa.

“O Grande Amor” (TJ e Vinícius de Moraes): gravado bem mais lento do que o fez o saudoso cantor Mário Reis (preciosidade!), AM e PM deram ao samba a dose certa de encanto.

“Amor em Paz” tem participação de Ivan Lins, que tocou piano e cantou com Augusto. Após a intro (com a marca do talento de Ivan), Augusto faz vocalises. E, em duo, brilham – como no final, quando Ivan canta uma oitava acima, enquanto AM se
mantém na linha melódica.

“O Morro Não Tem Vez” (Tom e Vinícius) tem levada esperta. AM canta de maneira absolutamente singular.

“Insensatez” (Tom e Vinícius) vem com outra levada supimpa, principalmente em alguns compassos do início e do final.

“Se Todos Fossem Iguais a Você” (Tom e Vinícius) começa ad libitum e assim vai até uma levada ritmada, que agrega ânimo ao sucesso de uma das duplas mais profícuas da MPB.

“Água de Beber” (Tom e Vinícius) fecha a tampa. Mais uma vez, uma levada supimpa que difere da original. O piano acerta os contrapontos. Augusto dobra a própria voz e conduz ao final. Meu Deus!

Assim, amando a música de Tom, viva, imortal, Augusto Martins e Paulo Malaguti entregaram-se de corpo e alma abertos à emoção de reaver Jobim.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4

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