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Coluna do Aquiles

A genialidade de Alberto Nepomuceno

Arquivo Geral

09/11/2016 7h00

Atualizada 02/11/2016 18h04

O compositor cearense Alberto Nepomuceno (1864-1920) teve gravados os seus três quartetos de cordas. Proeza que coube ao Quarteto Carlos Gomes, integrado por Cláudio Cruz e Adonhiran Reis (violino), Gabriel Marin (viola) e Alceu Reis (violoncelo).

Nascido em Fortaleza (1864), a singeleza com que concebia as obras e a sensibilidade talhada em cada acorde, em cada contraponto, fazem dele um dos maiores compositores eruditos do Brasil. Suas concepções composicionais sempre estiveram ombro a ombro com as dos maiores compositores brasileiros e europeus.

Quanto ao Quarteto Carlos Gomes, que, confesso, ainda não conhecia, após muitas e prazerosas audições do álbum Quarteto Carlos Gomes – Alberto Nepomuceno (selo Sesc SP) pude comprovar a virtuose de seus instrumentistas. Com a técnica e a emoção latejando na ponta dos dedos, embaladas por primorosa afinação, suas interpretações permitem aos ouvintes compreender a extraordinária beleza das obras de Alberto Nepomuceno.

Dos pontos de vista melódico e harmônico, cada um dos quatro movimentos, de cada um dos quartetos, são uma maravilha. Os allegros, scherzos ou andantes têm o dom de serem por vezes líricos, singelos, dramáticos, melancólicos e/ou graciosos… mas sempre admiráveis.

Seja pela mestria da interpretação do Quarteto Carlos Gomes, seja pela genialidade da composição, os movimentos soam na mais absoluta harmonia. Nuances são perceptíveis a cada pizzicato, a cada intermezzo, a cada afretando, a cada ralentando.

Assim é, por exemplo, no “Quarteto nº 1” (1889), que abre com um monumental alegro agitato; seguido de um andante, cuja repetição em pianíssimo de uma mesma frase musical nos reconforta; sucedido por um scherzo, que culmina com um pleno de graça alegro spirituoso. O meu preferido é o primeiro movimento.

Assim também é no “Quarteto nº 2” (1891), quando um allegro com fuoco dá a partida. Em seguida um andante expressivo, seguido de um empolgante Scherzo, que, por sua vez, deságua noutro movimento alegro com fuocco, ainda mais rico do que o primeiro.

E vem o “Quarteto Nº 3” (1891) – o mais bonito de todos. Um allegro moderato dá o pontapé inicial ao mais luminoso dentre os movimentos deste quarteto, que traz o violoncelo num primoroso desenho. Segue-se um intermezzo – allegretto, que, por sua vez, entrega para um allegretto, o quarto e último movimento.

Após mais de 70 minutos de audição, o impulso para retomá-la desde o primeiro quarteto é irresistível. E eu voltava. E ainda hoje volto, volto…

Ainda que eu não devesse, não consigo deixar de agora repetir uma frase comumente ouvida em muitos dos faroestes do cinema norte-americano, cuja tradução diz mais ou menos assim: “Mexam seus traseiros gordos”. A ela eu acrescento: e vão ouvir o álbum Quarteto Carlos Gomes – Alberto Nepomuceno.

Agora sem brincadeira, gente, é pecado não ouvir esse disco que traz uma das obras mais fascinantes da música erudita brasileira.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4

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