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Coluna do Aquiles

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Arquivo Geral

15/02/2017 7h00

A bela capa do álbum Todo Sentimento (Fina Flor) estampa os nomes de Mauro Senise (saxes e flautas) e de Romero Lubambo (violão). Nada mais justo, posto que os dois o dirigiram musicalmente e, com Ana Luisa Marinho, conceberam o projeto. Mas peço licença para tratar o disco não apenas como dos dois (e veja bem, leitor, não estou com isso desmerecendo o protagonismo deles, ao contrário; além de vê-los em grande forma criativa e técnica, admiro-os pelo acerto da arregimentação dos convidados).

Isto dito, explico o porquê de ter-lhes pedido a necessária licença: Todo Sentimento não é apenas o CD de um duo, mas sim um trabalho de um sexteto instrumental e um crooner. Septeto este que, além de seus líderes Senise e Lubambo, conta com Jota Moraes (vibrafone), Kiko Horta (acordeom), Mingo Araújo (percussão), Bruno Aguillar (contrabaixo) e Edu Lobo (crooner: sim, é esse mesmo que você está pensando, leitor).

É claro que o quinteto convidado não está presente em todas as treze músicas do álbum. Mas, quando estão, acrescentam ainda mais qualidade aos arranjos, todos coletivos. Senise e Lubambo tocam em todas as faixas, sendo que em quatro delas tocam só os dois, enquanto os convidados se dividem entre as nove restantes.

Em “Todo o Sentimento” (Cristovão Bastos e Chico Buarque), o violão de Lubambo toca a introdução até entregar a melodia para o sax soprano de Senise. O violão permanece junto. O som do sax é feito uma cortina de plumas, tão delicado que é. À frente, o violão assume a melodia. Logo o sax a traz para si. Eletrizante e soberbo, o violão segue junto. Um improviso, primeiro do violão, logo após do sax, embala para presente a beleza da melodia de Cristovão. E assim, juntos ou separados, se fazem uno. E criam.

Quando Edu Lobo interpreta emocionado a sua linda “Candeias”, com ele estão a flauta de Senise, o violão de Lubambo e o contrabaixo de Bruno Aguiar. O arranjo é tão belo quanto bela é a canção de Edu, ele que, como todo bom crooner, a interpreta cerimoniosamente, reverente aos companheiros de música a seu lado.

“Chora Baião” (Antonio Adolfo) tem na cozinha de contrabaixo (Bruno Aguilar) e percussão (Mingo Araújo) o esteio do suingue, desde a introdução até o final. Isso tudo para que o violão improvise, e o sax alto sole a melodia e logo faça um improviso supimpa. O contrabaixo e a percussão seguem com alto desempenho. Junto com o baixo e a percussão, o violão sola, o sax sola e juntos reescrevem a composição de Antonio Adolfo.

O duo, que vale por um septeto, mostra-se por inteiro quando a percussão inicia “Dona Teca Ganhou Asas” (Jota Moraes). Em meio ao virtuosismo do violão e do sax alto, o vibrafone abre seu som bonito de se ouvir – seu intermezzo é admirável.

Admiro e aplaudo quando instrumentistas se ajuntam para shows e gravações. Desde que se disponham a caprichar nos arranjos e tê-los “debaixo do dedo”, como bem diz Mauro Senise, suas atuações nos permitem crer que a perfeição é (quase) possível.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4

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