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Coluna D

Smartphone, status e amor

Arquivo Geral

03/06/2017 10h24

Atualizada 15/07/2017 21h51

Diana Leiko

Quando me propus a escrever neste espaço, ideia que foi prontamente abraçada pelo Jornal de Brasília, meu objetivo com meus textos era ir além das questões comuns sobre redes sociais. Então, nesta semana, elegi um tema de que particularmente gosto muito: o celular. Não falarei, entretanto, da parte técnica.

Começo contando a experiência recente que tive ao participar de duas première Fujioka para o lançamento de dois smartphones premium. O LG G6 e o Samsung S8 e S8 Plus. Conversei com Marcelo Perin, vice-presidente de vendas da LG, e Renato Citrini, gerente sênior de produtos da Samsung. Tivemos uma conversa muito agradável, que não se restringiu ao que cada aparelho apresenta de funcionalidade e inovação.

Perguntei aos dois sobre os caminhos traçados e trilhados até o lançamento de um produto dessa envergadura. “Tecnologia só serve se ela te satisfaz de alguma maneira. Se não ela passa a ser só mais um trambolho na sua casa que você vai usar uma vez e achar que não valeu para nada. Então, para lançar o G6 a gente fez uma pesquisa com os consumidores para entender o que as pessoas mais queriam”, afirmou Marcelo.

Crédito: Bruno Pimentel

Crédito: Bruno Pimentel

De acordo com ele, o estudo apontou que quase 70% das pessoas entrevistadas queriam uma tela grande, só que ao mesmo tempo diziam que um produto grande as incomodava porque não cabe no bolso e é muito grande para carregar e manusear. Outro grupo revelou que gostaria de um celular que fosse mais rápido e a bateria durasse mais, que a tela fosse bastante clara e que nas fotos coubesse mais gente.

Já no bate-papo com Renato Citrini ele me explicou que o Brasil é o quarto maior mercado de smartphones do mundo para a Samsung e, portanto, muito importante. “O brasileiro adquire tecnologia, principalmente de smartphone, com muita velocidade. Um ano e meio, dois, é o tempo médio de troca”, informou.

Renato Citrini. Crédito: Bruno Pimentel

E o que me chamou atenção foi o seguinte: embora nos últimos anos o Brasil venha passando por uma situação econômica muito peculiar, o mercado de smartphone foi o que menos sofreu, segundo ele. “É o último que vai ter problemas e o primeiro a voltar a se recuperar. E isso a gente já está vendo este ano. Temos uma previsão de vender mais smartphones do que no ano passado”, declarou.

O que tem em comum nas duas marcas – além do alto investimento em tecnologia – é que estamos falando de celulares que variam entre R$ 4 mil e R$ 4.500. Não é um valor desprezível, principalmente na atual conjuntura. E também não é destinado apenas a pessoas de alta renda.

Citrini comentou sobre um garçom que o atendia durante uma entrevista sobre o S8 e que o interrompeu para saber mais do lançamento, pois ele tinha o S7. Aí, me pergunto: – O que leva as pessoas a se apertarem, a parcelarem o aparelho em 12 vezes, a abrirem mão de gastos supérfluos e não supérfluos para obterem o último lançamento ou a fazerem dívidas que não condizem com sua renda? Qual sua maior motivação?

Desejo de status – Adam Smith, em “A teoria dos sentimentos morais” (Edimburgo, 1759) diz o seguinte: “Qual o propósito de toda a labuta e a afobação deste mundo? Qual é a finalidade de avareza, da ambição, da busca de riqueza, poder e preeminência? Será suprir as necessidades naturais? O salário do trabalhador mais medíocre pode supri-las. Quais são, então, as vantagens desse grande propósito da vida humana a que chamamos de melhorar nossas condições de vida? ”. Resposta abaixo.

Ser notado, ser atendido, ser visto com simpatia, complacência e aprovação são as vantagens que supostamente derivam disso. O rico ufana-se de sua riqueza porque sente que atraiu naturalmente para si a atenção do mundo. O pobre, ao contrário, envergonha-se de sua pobreza. Sente que ela o coloca longe dos olhos da humanidade. Sentir que não recebemos atenção decepciona os desejos mais ardentes da natureza humana. Ou seja, meus caros amigos, acontece em todas as classes.

Usar uma bolsa Chanel com o mais novo Iphone dentro ou recorrer a falsificações de marcas só tem um único propósito: ser notado. É como se esses objetos tivessem o poder de nos transformarem. Antes de termos tal produto éramos ninguém. Agora que já compramos, somos alguém diante de uma sociedade doente que valoriza o que temos, não o que somos.

E o amor? – William James, em “Os princípios da psicologia”(Boston, 1890), diz o seguinte: “Não se poderia pensar numa punição mais demoníaca, se tal coisa fosse fisicamente possível, do que estar numa sociedade e passar totalmente despercebido por todos os seus membros”.
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O impulso que ultrapassa o nosso desejo de sucesso na hierarquia social talvez não esteja tanto nos bens que podemos adquirir ou no poder que conseguimos exercer, mas no amor que recebemos como consequência do nosso status elevado, diria Alain de Botton.

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Compramos mais do que precisamos, adquirimos dívidas sem necessidade, doamos roupas que usamos pouco ou às vezes sequer chegamos a vestir, destruímos o planeta pelo excesso de consumo e caímos num profundo vazio.

Se soubéssemos do nosso próprio valor, o que os outros pensam de nós não teria um papel determinante no modo como conseguimos nos ver. Seríamos mais impermeáveis. Não nos abalaríamos sempre que fôssemos ignorados ou notados, elogiados ou zombados.

Em vez disso, carregamos internamente visões conflitantes quanto ao nosso caráter. Temos provas de inteligência e estupidez, humor e tédio, importância e inutilidade. E, nessas condições inconstantes, a atitude da sociedade passa a definir o quanto somos importantes pelos bens que adquirimos e que, a partir deles, podemos ganhar respeito, aceitação e amor.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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