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Brasília

As paixões

Arquivo Geral

15/09/2016 7h00

Atualizada 14/09/2016 10h59

Quem nunca se apaixonou, que atire a primeira pedra. E lamente, pelo restante de sua vida, não ter passado por esta experiência. Paixões mudam a gente. Nos fazem melhores, piores, jamais indiferentes. Paixões nos fazem pegar um avião para ver o ser amado, nem que seja para este ser dizer adeus. Valeu a pena. É paixão. E paixão, sempre digo, é vida. Se fui atingido por alguma pedra dos citados no início da coluna, afirmo: obrigado.

Na terça-feira, a Nação Rubro-Negra deu uma verdadeira aula do que é paixão. Quem circulasse pelo centro do Rio de Janeiro na manhã de terça-feira percebia um movimento não habitual de pessoas com a camisa do Flamengo. A razão? Paixão, apenas isso. Era a torcida se mobilizando para levar seus jogadores até o aeroporto. Eles que viajariam para São Paulo para enfrentar, ontem à noite, o Palmeiras no jogo que valeu a liderança do Brasileiro 2016.

Proibidos de ver seu time do coração pelos atos irresponsáveis de alguns vândalos (estes não são apaixonados, são apenas doentes), os verdadeiros torcedores, aqueles que contam as moedas para seguir sua equipe, que trazem no peito e na garganta o amor pelo seu clube se reuniram e tomaram conta do Santos Dumont. Mentira. Tomaram conta também de Congonhas. Isso mesmo: centenas de torcedores do Flamengo, time do Rio de Janeiro, invadiram o aeroporto paulista para receber seu time. Isso é paixão.

É bom lembrar que domingo o Flamengo continuará a jogar em São Paulo. Pelo mesmo Brasileiro. Contra o Figueirense. Aliás, vejam que coisa curiosa: o time catarinense está lutando para sair do Z-4. Um dos seus destaques nos últimos jogos era o meia Carlos Alberto, que já jogou no Fluminense, no Porto, no Vasco… Só que ele declarou seu amor ao Flamengo, na semana do jogo. Foi afastado da equipe. Isso é paixão, por vezes irresponsável, mas é paixão.

Novos rumos

Sempre que vou aos congressos da Associação de Imprensa Esportiva Internacional faço questão de conversar com todos os colegas, de todos os países. Sem ser fluente em inglês, dou meu jeito e bato papo com o representante de Bangladesh, o da Tanzânia, o mexicano, o italiano, enfim… Fazemos um grande encontro de ideias e nos divertimos. Não faço distinção entre países ricos e pobres; desenvolvidos ou não.

Em 2013, quando me candidatei à direção da entidade, esperava os votos dos colegas das Américas e pensei em “buscar” alguns apoios aqui e ali. Momentos antes da votação, um colega, da chamada Europa pobre, que todos os anos comparece com o mesmo paletó, já puído e quase sem cor, se aproximou e me perguntou quem era o brasileiro candidato – não é fácil gravar o nome de mais de 200 jornalistas do mundo inteiro. Quando disse que era eu mesmo, ele colocou a mão no meu ombro e disse que “os países dos Balcãs irão votar em você”. Agradeci. Minutos depois ele começou a trazer à minha mesa outros colegas, com quem eu tinha pouco contato, mas todos da Europa pobre e dizia “este é nosso amigo… votemos nele…”. Para encurtar a história, fui eleito com a segunda maior votação.

Nesta terça-feira a UEFA, União Europeia de Futebol, elegeu seu novo presidente. O sucessor de Michel Platini, envolvido, como tantos caciques do futebol mundial, em situações pouco esclarecidas e, diria, constrangedoras. Dois candidatos: um holandês e um esloveno. Resultado? Vitória do esloveno, de goleada (42 a 13). E um duro recado para os países “poderosos”, que acham tudo poder fazer.

Aleksander Ceferin (este é o nome do novo presidente), 48 anos, lançou em seu discurso de posse aquele que parece ser o mote da nova política internacional: respeito aos pequenos. Ao dizer que considerava desrespeitosa a ideia passada pelos adversários de que era “jovem e inexperiente”, os rivais desejavam, isso sim, criar o temor pelo fato de Ceferin vir de um país de pouca expressão. Mais uma vez respondeu duramente: “Presidentes de pequenas e médias federações a cada ano precisam fazer mais com menos”. Outro recado.

Dizendo-se um homem de equipe, “apaixonado” (vejam só!) e querendo mudanças, Ceferin contou com o apoio do antigo bloco do Leste europeu e da Europa pobre. Uma resposta a crescente tentativa dos grandes clubes do continente em asfixiar as entidades nacionais. O que vai acontecer a partir daí é uma grande incógnita, mas os ventos parecem estar, mesmo, mudando de direção.

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