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Brasília

Antonio Adolfo é o cara!

Arquivo Geral

21/07/2016 7h46

Atualizada 20/07/2016 21h48

Foi em junho do ano passado que eu comentei sobre um CD recém-lançado pelo grande pianista, compositor e arranjador Antonio Adolfo, que à época completava 50 anos de profissão. Tanto lá atrás como agora, faço questão de enaltecer o seu perfil empreendedor, engajado e pioneiro – foi ele que, dando uma banana às grandes gravadoras, lançou o disco seminal Feito em Casa (1977). Esta ação apontou um caminho novo para a produção fonográfica: o disco independente.

Pois ele acaba de lançar Tropical Infinito (selo AAM), seu 25º álbum. Sempre disposto a buscar novas sonoridades, Antonio escalou um time de primeira linha que incluiu uma novidade, um trio de metais formado por Jessé Sadoc (trompete e flugelhorn), Marcelo Martins (saxes soprano e alto) e Serginho Trombone (trombone). O grupo contou ainda com Leo Amuedo (guitarra), Jorge Helder (contrabaixo), Rafael Barata (bateria e percussão), André Siqueira (percussão) e um convidado especial, o violonista Claudio Spiewak.

Todos os arranjos são assinados por AA, que também é autor de quatro das nove músicas gravadas (duas delas inéditas). O disco abre com “Killer Joe” (Benny Golson). Num arranjo que faz jus ao título, Antonio buscou ampliar o significado de samba jazz. Em andamento ligeiro, piano, bateria e baixo tocam a introdução, que segue até a entrada dos metais. E o coro come. O suingue entrega de bandeja o tema para que o trombone faça um solo memorável. O piano segue seu rumo de a todos juntar. Chega o trompete, indo firme nas notas mais altas. O sax toma para si o direito de improvisar e
assim vai até entregar o solo para a guitarra. Após esses improvisos, o piano volta a protagonizar o arranjo. Numa dinâmica correta, os sopros levam a melodia ao “forte”, encaminhando-a para o final, que se consuma com uma virada da bateria.

Fechando a tampa, temos “Luar da Bahia” (Antonio Adolfo). Arritmo, a guitarra inicia a melodia. Baixo e bateria seguram a onda. Enquanto a guitarra toca, os sopros garantem um apoio de luxo. O piano se junta, e os três seguem juntos por alguns compassos. Baixo e bateria sustentam a levada delicada. O baixo “chama” o clarinete, que não se faz de rogado e vai preciso às notas de um improviso. Novamente arritmo, o baixo sola, enquanto o piano é econômico nos acordes e a bateria é sutil. Aos poucos o ritmo volta. Os sopros e o piano tornam a se juntar e tocam um desenho que se repete –uma multiplicação que enleva o espírito tanto de quem toca quanto de quem ouve.

Volto ao artigo que escrevi em 2015: eu o titulei como “Antonio Adolfo, um músico moderno”. Sim, pois além de todos os seus predicados serem imensos, me impressiona sua modernidade, que faz dele um dos maiores instrumentistas brasileiros. Basta uma passada de olhos por tudo o que ele já criou desde os anos 1960 para constatar: Antonio é o cara!

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