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Cinema com ela
Cinema com ela

Quando filme de herói virou sinônimo de bobagem

Arquivo Geral

16/02/2018 16h35

Reprodução

O mico da vez foi Thor Ragnarok. Na hora, existiu certa satisfação em conferir, pois a data festiva do carnaval combinou completamente com a atmosfera esquizofrênica do filme. Tantas cores e tantas piadas que, em certo momento, os desfiles das escolas de samba pareciam mais coerentes do que o embate entre Thor (Chris Hemsworth) e a vilã wannabe de Power Rangers, Hela (Cate Blanchett). Ao subir os créditos finais me questionei: quando as adaptações de quadrinhos deixaram de ser subversivas?

Seria de imensa satisfação dizer que a culpa não é da Marvel, mas infelizmente é. Tanto que a editora concorrente, DC Comics, alterou dois filmes para que fossem mais cartunescos. O resultado medonho disso pode ser visto em Liga da Justiça e Esquadrão Suicida.

Pequena retrospectiva

O ano de 2008 foi muito emblemático para as adaptações de quadrinhos. Apenas dois filmes foram capazes de mudar o cenário por completo. Primeiro, O Homem de Ferro, estrelado por Robert Downey Jr e responsável por reerguer a carreira do ator, iniciou o Universo Estendido da Marvel nos cinemas. Segundo, a estreia da sequência de Batman Begins, Batman – O Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan.

Títulos que foram capazes de apontar o futuro do cinema comercial, até porque as adaptações poderiam caminhar por duas trilhas: filmes mais adultos em que os longas-metragens fossem mais complexos ou patifaria. Infelizmente, o segundo prevaleceu. Desde então, temos cerca de dois a quatro lançamentos de histórias em quadrinhos no cinema por ano.

A DC Comics, que antes da conversão para o Universo Estendido (DCEU) tinha a trilogia antológica de Christopher Nolan no currículo, alguns bons filmes de Tim Burton (Batman e Batman – O Retorno) e dois Supermans de Richard Donner, estava no caminho certo. Porém, o público esperava ver Batman e outros heróis no mesmo filme um dia e por isso, apesar de muita controvérsia, O Homem de Aço – a origem ao DCEU – mostrou que otimismo e ideais mais complexos podiam andar juntos.

Infelizmente, após a estreia do sombrio Batman Vs Superman – A Origem da Justiça, a Warner Bros (mantenedora do direitos autorais da DC Comics) resolveu jogar pelas regras do adversário. O resultado catastrófico pode ser explicado: Marvel, originalmente, é mais tosca e despretensiosa. DC se sustenta em vilões e heróis mais graves. Obviamente não conseguiu apostar em algo tão bobo assim. Se ainda existe dúvida, repito: veja Esquadrão Suicida e Liga da Justiça.

Falta de vontade

Nos estúdios Marvel, o poder estrutural por trás de qualquer filme é nítido. Até porque quando existe o plano de fazer diferente, a produtora arrebenta. Capitão América – O Soldado Invernal é um bom exemplo. Caso contrário, histórias mais adultas em que todos os dilemas dependem de roteiro mais cruel e sombrio viram uma comédia americana, como Doutor Estranho.

Como acrescentei, a Marvel, de fato, é mais infantil, mas isso não impede de trazer algo novo ou subversivo. Existem personagens graves no universo da Marvel, assim como existem heróis infantis na DC Comics.

Os que perseveram

Vale lembrar que a Marvel Studios pertence aos Estúdios Disney e há até pouco tempo, alguns heróis permaneciam a outros estúdios como os X-Men e o Quarteto Fantástico, que eram da Fox e o Homem-Aranha da Sony Pictures.

Até a Disney engolir tudo pra ela, a franquia iniciada por Bryan Singer era considerada uma das tramas mais revolucionárias e dramáticas do cinema de herói. E, felizmente, essas alternâncias de suas ideias ainda perseveram. Dentro do universo dos mutantes temos dois exemplos incríveis: Logan e Deadpool.

A subversão de Logan é nítida quando James Mangold resolve agregar ao filme um tom de faroeste contemporâneo. Nu, cru, sanguinário e niilista. Tão empolgante que recebeu uma indicação ao Oscar 2018 por Melhor Roteiro Adaptado. O outro exemplo, que se aproxima dos padrões da Marvel Disneylândia, é o Deadpool. Este, porém, é uma carnificina do começo ao fim.

São exemplos em que boas ideias (leia-se roteiro complexo e cheio de dilemas) e cinema de entretenimento podem andar juntos. O que falta é parar de subestimar o público. Algo recorrente na cabeça dos produtores tanto da DC Comics quanto da Marvel Studios.

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