Há algumas horas a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas revelou os indicados ao Oscar 2018. E tradicionalmente, os membros da Academia conseguem surpreender tanto positivamente quanto negativamente. Confira o que isso significa para o âmbito da indústria cinematográfica americana:
Mudança de cenário
Dunkirk estreou no dia 27 de julho nos cinemas brasileiros. Antes de aterrissar nas terras brasileiras, o novo filme de Christopher Nolan causou bastante debate no que seria o melhor filme de 2017 e o mais provável vencedor do Oscar 2018. O que muitos não esperavam foi a presença assombrosa de A Forma da Água nas premiações que antecedem o Oscar, diminuindo a probabilidade de Dunkirk vencer. Enquanto Dunkirk recebeu 8 indicações, A Forma da Água lidera com 13.
Guillermio Del Toro ganha o Globo de Ouro 2018 de Melhor Direção por A Forma da Água
Palco de protestos
O ano de 2017 teve um marco histórico em Hollywood. Nunca se falou tanto em abusos dentro da indústria cinematográfica. O que começou com uma denúncia corajosa contra Harvey Weinstein se tornou uma onda justa de protestos contra os assédios sofridos por atrizes. Por ser um prêmio quase exclusivamente comercial, o Oscar não deixa estes momentos de engajamento para escanteio.
A primeira demonstração de tal ativismo nas categorias de 2018 é a indicação à Melhor Diretora, para Greta Gerwig de Lady Bird – Hora de Voar. Obviamente a cineasta debutante em direção tem seus méritos, mas é inegável e jogada política por trás. Única mulher indicada entre cinco concorrentes sendo eles: Christopher Nolan (Dunkirk), Jordan Peele (Corra!), Paul Thomas Anderson (Trama Fantasma) e Guillermo Del Toro (A Forma da Água). Mesmo com Greta entre os indicados, quem recebeu a esnobada do ano foi Patty Jenkins por Mulher-Maravilha.
Greta Gerwig dirigindo Saoirse Ronan em Lady Bird – Hora de Voar
Mais protestos em formato de indicações
Outro escândalo Hollywoodiano de 2017 foi o número de denúncias de atores contra Kevin Spacey. O ator que foi acusado de abusar menores de idade durante gravações foi afastado de dois projetos: o sucesso estrondoso de House of Cards e Todo o Dinheiro do Mundo. O filme dirigido por Ridley Scott ganhou atenção dos holofotes pois o diretor substituiu Spacey por Christopher Plummer. A troca foi reconhecida pela Academia. Plummer está na corrida ao Oscar como Melhor Ator. Este foi um método do Oscar em dizer que o prêmio e a política caminham mais juntos do que nunca.
Christopher Plummer como John Paul Getty III no filme Todo Dinheiro do Mundo
As conquistas de 2017
O último Oscar fez história. Primeiro filme LGBT com protagonistas negros a ganhar a estatueta de Melhor Filme. Resquícios deste marco apareceram na lista deste ano. Corra! – terror que apresenta o racismo do modo mais assustador e irônico possível – foi reconhecido pela Academia este ano. Outro destaque surpreendente é a adaptação literária LGBT Me Chame pelo seu Nome nas categorias principais, incluindo Melhor Filme, Ator e Roteiro Adaptado. Ainda no sub-gênero LGBT, temos a indicação de Melhor Filme Estrangeiro para Uma Mulher Fantástica, longa-metragem chileno protagonizado pela atriz trans Daniela Vega.
Me Chame pelo Seu Nome, filme LGBT indicado ao Oscar de Melhor Filme
Mais vitórias
Apesar de Mulher-Maravilha ter sido ignorada, não podemos esquecer da indicação de Logan para Melhor Roteiro Adaptado. Última vez que uma adaptação de quadrinhos apareceu nas principais categorias do Oscar foi em 2008, com Batman – O Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan.
Surpresa do Oscar 2018: Logan na categoria de Melhor Roteiro Adaptado
Os humilhados
Houve justiça nos indicados do Oscar 2018, mas também houveram as humilhações. Começando pela mais covarde: Blade Runner 2049 conquistar apenas indicações técnicas. O diretor Denis Villeneuve que foi indicado ano passado por A Chegada foi completamente ignorado pelos membros da Academia, sendo que a sequência de Blade Runner – O Caçador de Andróides foi apontado como um dos melhores filmes do ano por muitos críticos, diretores e espectadores.
Blade Runner 2049, o grande esnobado do Oscar 2018
Nas animações de 2017, uma das produções que mais se destacaram foi Lego Batman. Além de ter sido um sucesso imenso nas bilheterias, o filme foi mega elogiado pela crítica e declarado uma das melhores adaptações do homem-morcego desde Batman – O Caveleiro das Trevas (2008).
Apesar do cenário tumultuado de protestos (necessários) de 2017, se comparado com o contexto da última premiação, sutilmente a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas têm mudado seus conceitos e morais. Felizmente.
